quarta-feira, 25 de setembro de 2013

"Só o que me resta é olhar o céu e perceber o infinito que há dentro de mim" 

VOU DESENHAR ASAS EM TUDO

Vou desenhar asas em tudo
para que o corpo não mais pese.
E que o vento não seja empecilho.
E que o teto seja apenas o céu.
Vou rabiscar penas nas costas,
colorir com aquarela todas as lacunas da alma.
Vou derramar tinta nos lábios,
pincelar os olhos com o mais branco das nuvens.
Fazer um verde brilhante para pisar
Vou desenhar um caminho novo,
sem perspectivas, sem medidas
que me leve à um lugar nenhum que eu já conheça.
Vou desenhar asas em tudo.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

sábado, 27 de abril de 2013

VI A POESIA NOS OLHOS DE ALGUÉM


Vi a poesia nos olhos de alguém.
Ela se derramava e se misturava 
com lágrimas de felicidade
Vi no fundo da alma uma gota de orvalho
iluminada pela luz de um vaga-lume.
Perdi-me no meio do seu sorriso
Perdi-me no meio de sua boca
Vi, em seus olhos doces, 
a poesia derramada
numa gota de orvalho 
cheia de vaga-lumes 
sorridentes.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Ternura

O som silencioso do ninar
Cai sobre os olhos num carinho infinito
Invade a alma cansada, penetrando no mais fundo do ser.
O som silencioso do ninar
Acaricia o tempo
E promove a calma.
O balançar da rede canta a mesma canção.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A língua

Regurgitar palavras corresponde sempre
a desdizer o não-dito.
Falar para fora o que deveria estar escondido
ou bendizer o maldito.
Engolir a vergonha do não falado
seria mais simples que machucar o vento
com o veneno da alma que sai pela boca.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Trindade Pagã

     Sensivelmente podia-se ver claramente seus olhos enegrecidos pela penumbra do quarto frio. Por uma fresta entrava o ar que, aos poucos, ia fundindo-se ao bolor dos pães sobre a mesa promovendo uma sensação de esquecimento.
     O ontem parecia não existir apesar de um anteontem presente se mostrasse vívido num amanhã que insistia em se fazer ausente. Havia um relógio parado logo acima da penteadeira, ao lado de um crucifixo inútil, pois ali, naquele recinto, todos eram ateus. Contudo, dos três que dividiam o lugar, o mais novo transmutara-se para o ateísmo havia algumas horas e já estava disposto a despir-se de toda bagagem que o remetesse a qualquer centelha de religião ou crença.
     Assim, por mais que não quisesse, estava destinado a ser o que sempre quisera, mesmo sabendo que poderia fugir ou modificar isso.
     Dormiam num único corpo, possuíam-se numa única dança e viviam como teriam de viver.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O som das estrelas ao amanhecer

       Poderia estar atenta a tudo se quisesse, no entanto preferia ficar olhando o azul do céu. Gostava de deitar-se num chão qualquer à tardinha, isolada de todos, e ficar ouvindo o gorjeio dos pássaros do entardecer.
       O azul que se pintava nessa hora era mais bonito, era um azul avemelhado pelo por do sol, por isso era mais apreciado.
            Certo dia resolveu acordar mais cedo, antes de todos, antes até mesmo que do sol, e deitar-se na grama da pracinha do bairro onde morava. Ainda de camisola abriu o portão de casa e saiu no finzinho da madrugada. Deitou-se sem se importar com o orvalho que, sutilmente, acariciava a grama da praça. Percebeu então que céu do finzinho da madrugada era ainda mais bonito que o do entardecer. 
               Ver as estrelas se despedindo à chegada do sol foi esplêndido, era como se cada pontinho que ia sumindo exalasse um tilintar agudo em sua mente, produzindo uma música única e jamais tocada.